sábado, 13 de outubro de 2012

Portugal e a falta de cultura desportiva


Ao longo dos anos, uma das dificuldades de algumas pessoas é a de não poderem conversar, vibrar com um jogo do seu clube, da selecção, com a prestação de um atleta nas várias modalidades desportivas. 

A razão que existe para isso acontecer é a de que a grande parte dos portugueses não gostam de ver desporto. Desde pequenos que somos ensinados a gostar e a defender até aos limites (e até ultrapassá-los) um qualquer clube supostamente desportivo. Mas os clubes deixaram de ser apenas desportivos, e passaram a ser políticos, símbolos exagerados de uma região, cidade ou bairro. As pessoas chegam a defender mais as pessoas que se tornam o rosto desse clube em vez do próprio. 

Como existe o futebol que é a modalidade mais representativa dos clubes, e com mais visibilidade a nível mundial e principalmente europeu as pessoas gostam de futebol, como iriam gostar de qualquer outra actividade que fosse a principal bandeira dos clubes. 

A diferença entre nós e os adeptos de outros países é a ordem das coisas. Em qualquer país as pessoas gostam em primeiro lugar de desporto, em segundo vem a preferência por algumas modalidades e em terceiro e porque existem as anteriores escolhem um Clube para se tornarem adeptos. 

Em Portugal em primeiro defendemos um Clube e por essa razão gostamos da modalidade que mais o representa.

Não são poucas as vezes que temos uma selecção nacional de qualquer um dos desportos ditos amadores, a disputar um jogo importante e decisivo para a qualificação de uma competição importante, como um campeonato mundial, europeu ou mesmo olímpico, e deparamos que o pavilhão ou local em que se realiza essa prova está praticamente vazio. Quando defrontamos certas equipas em que existem muitos naturais desse País a viver em Portugal chegam a estar esses adeptos em maior número, e por vezes em proporções bastantes desiguais, o que deve levar os nossos atletas a pensar quem realmente joga em casa, e se valerá todo o esforço que fazem para poder treinar e jogar ao mais alto nível, uma vez que grande parte deles trabalha ou estuda e “negligenciam” por vezes a sua família o seu tempo de estudo, de descanso para irem treinar.

No futebol todos nós ficamos desolados por termos perdido aquela final, por morrer na praia e não termos tido a oportunidade de vir finalmente para as ruas festejar uma vitória portuguesa que por várias vezes já esteve tão perto. Desta vez quase lhe sentíamos o gosto, apesar de a nossa performance tenha sido espectacular e que ninguém dessa equipa se pode sentir derrotado, muito pelo contrário, além de chegarmos á final que com um pouco de sorte tínhamos ganho, fizemos excelentes e emocionantes jogos. A nível da organização foi também excepcional. Mas a vitória não veio e durante os tempos seguintes ouvimos várias pessoas dizerem, “fica para daqui a dois anos no Mundial, aí vamos conseguir.” Esse é um dos maiores desejos de qualquer português, mas desporto não é matemática, nem sempre o resultado final é aquele que é mais provável no início. E se isso acontecer vamos mais uma vez andar tristes e cabisbaixos. Mas essa sensação de tristeza deviamos tê-la depois de qualquer derrota, de qualquer atleta em qualquer modalidade.

Mas nós só temos de esperar dois anos para torcermos ou festejarmos uma vitória ou uma boa participação numa prova desportiva se quisermos. Felizmente alguns de nós tivemos vários motivos de alegria e oportunidades para festejar ao longo dos últimos tempos. Dou alguns exemplos. 

No Râguebi fomos Campeões Europeus de Seven por sete vezes, ganhamos também em 2004 no de Quinze o chamado torneio da Seis Nações B num jogo emocionante com a Rússia e resolvido já no último minuto. Além de sempre que defrontamos a Espanha nesse torneio termos ganho o que nos dá um gostinho especial mesmo que o jogo seja a “feijões”. 

No Atletismo tivemos uma Campeã mundial de pista coberta no pentatlo, a Naide Gomes, e um Vice Campeão nos 1500m, o Rui Silva que já foi campeão do mundo, já para não falar dos vários campeões olímpicos como Carlos Lopes, Rosa Mota, Fernanda Ribeiro ou Nélson Évora e também dos vários títulos europeus de outros atletas.

Embora muita gente só se lembre do atletismo nos Jogos Olímpicos existem vários campeonatos importantes entre esses 4 anos. 

No Andebol qualificamo-nos para cinco grandes competições, Europeus e Mundiais, consecutivas o que é inédito numa modalidade colectiva em Portugal.  

Na Vela, Gustavo Lima foi campeão Mundial na classe “Lazer”. 

No Hóquei em Patins somos a selecção com mais títulos Europeus e apenas agora a Espanha nos alcançou no número de títulos Mundiais. A nível de clubes temos ido a finais de competições europeias.  

No Tiro já tivemos campeões do mundo e da taça mundial. 

Estes são apenas alguns dos bons resultados e vitórias de atletas portugueses em grandes competições que mereciam ser reconhecidos por toda a gente.

Uma das razões para este desconhecimento é a de em Portugal não haver cultura desportiva. Grande parte dos portugueses desconhece as regras de quase todos os desportos e por isso não se sentem atraídos para os ver, mesmo tratando-se das cores do nosso país. Quando olhamos para um jogo e não percebemos se está a ser bem jogado, se os atletas estão a fazer as movimentações correctas, se o treinador escolheu uma boa táctica, se o árbitro está a ajuizar bem os lances da partida, perdemos todo o interesse pelo que se está a passar. Isso leva-nos a não nos deslocarmos aos locais das competições ou simplesmente mudarmos o canal da televisão. 

Se desde novos formos habituados a ver e a gostar de desporto, talvez no futuro venhamos a ter mais atletas. E havendo em maior número existem mais possibilidades de ter-mos mais qualidade e assim mais vezes e em mais modalidades disputarmos a vitória nas grandes competições. E porque nem todos querem nem podem tornar-se atletas de profissionais podemos vir a ter melhores adeptos, mais conhecedores e que encham sempre os pavilhões, estádios ou outro qualquer local em que se realize uma prova.

Sem comentários:

Enviar um comentário